terça-feira, 27 de julho de 2010

O museu.

Ela já era velha. Sim, digo velha sem pena nenhuma, afinal temos idosos e temos velhos e nem sempre os velhos são tão idosos assim. Sempre fora sozinha para resolver todos os problemas surgidos em sua vida. Não tinha marido, não tinha filhos. Não tinha nada.

Quando tinha seus 30 anos, se separou do marido (em uma época em que mulheres fazerem isso era sinônimo de rebeldia e problemas sociais com as outras mulheres da sociedade). Nunca ligara para a sociedade, ‘ela que se exploda’, dizia. Nunca entendeu como, com sua boca enorme e as palavras não contidas, não havia sido presa. Mas voltando. Sem maridos e sem filhos, criou sua “empresa”, afinal, um ateliê de obras programas seria considerado empresa? Vendia protótipos de produtos e imagens para todo tipo de pessoa.
O mundo é preguiçoso e para equilibrar a preguiça mundial, nada melhor que pessoas que tenham falta disso em dobro (deu para entender?), para todos. E era assim que era. Pintor falido precisando de uma grana? Manda a ideia e a grana que lá o quadro é pintado, assinado e resenhado para posteriores e chatas explicações sobre a técnica e o processo de criação.
            
Sua casa refletia seu estado de espírito constante, trabalho, trabalho e trabalho. Três computadores, um notebook, uma máquina de escrever, uma biblioteca ocupando um a enorme sala, quadros, desenhos, esboços, móveis inacabados, discursos pendurados, papéis pelo chão, três celulares descarregados, cheques, notas soltas, alguns gatos, comida de gato, xícaras e canecas espalhadas, cartuchos de impressora e coisas assim. Tudo muito repetido e pela casa toda. Ela era o trabalho.



            Depois de se casar, nunca mais tentou um relacionamento sério que abalasse o ritmo de seu trabalho. Humanos são mais complexos e deles me bastam os clientes. E eram muitos, muitos nomes famosos, muitos que serão famosos e nenhum por mérito próprio.
Ninguém consegue nada sozinho, ninguém cria sem copiar.
Nem ela.

A arte imita a vida e sem vida, a arte é só a casca largada.

E ela assim foi, sem nem ao menos virar borboleta.

Sem nem ao menos viver suas 24 horas.

Sem nem ao menos viver.

Sem nada.


E você, continuará para os outros?

terça-feira, 13 de julho de 2010


Vá e corra com a vida, deixe ela te levar à lugares que você nunca sonhou.
Vá, coloque tudo em uma mala e parta. Conheça todas as pessoas do mundo. Aquelas que te farão rir e te farão chorar. Todas que tem o direito e um pouco mais.
Beba, fique de porre e tenha muitas dores de cabeça.
Veja, seja, sinta, fale, grite, fique em silêncio. Se mude, não tenha onde dormir, se case, tenha filhos, seus três, como sempre sonhou.
Corra com a vida, se case com ela.
Eu estarei aqui, com um bom livro nas mãos, boas noites de insônia, como não deve deixar de ser. Uma boa taça de vinho e a varanda, tendo o infinito qcomo jardim particular.
E eu estarei aqui. Como você um dia viu, como um dia você deixou pela vida.
E quando seus pés se sentirem cansados do mundo, a chave estará embaixo do carpete.
E o café sempre quente.

quinta-feira, 8 de julho de 2010



Em um simples olhar de janela,
olhar todas as coisas que você jura não perceber.
Tudo que passa diante dos seus olhos e você finge não ver.
As pessoas em suas vidas comuns,
quase tão comuns quanto a sua.
Não, não há tempestade no céu e o frio não te incomoda.
Você quer a tempestade para o visual mudar, pra algo te atingir.
Você quer a mudança.
A rotina sim te incomoda.
O café nosso de cada dia.
A dança dos dias.
Está morta e você quer vida.
Você não realiza os sonhos, porque fica vendo a tempestade chegar.
Cada dia é um dia amigo.
Cada dia é diferente, por mais que pareça uma cópia, de uma cópia, de uma cópia.
Se tudo igual te incomoda, se tudo igual não faz diferença.
É porque não há diferença.
E você já não sabe mais dançar.