segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E assim o Centro me devora...

(Petermalvado e Teorias de Viver...We are the Fucking Dreamers!)

Perto do Bar Brahma tem um boteco. Parei entre os dois e tentei escolher. Escolhi o boteco. Me sentei e pedi uma Skol, só para fortalecer minha escolhar, que a Brahma se foda, ela e seu bar pra empresários e estudantes de história que se acham intelectuais o suficiente para discutir pontos da atualidade tomando um chopp importado e ouvindo jazz.
Esperei o Peter chegar, ele demorava uma hora a mais que eu pra sair Teste de Paciência Remunerado dele.
Fiquei ali olhando as pessoas que estavam sentadas pelo boteco. Um velho com os dedos cheios de cascas e feridas, o velho do Centro. Nada mais combina tanto com o lugar. Na verdade todos ali combinam com o Centro. Velhos, cansados, sujos e de almas perdidas. Eu não sou velha, mas estou cansada e suja. Suja de mim até as orelhas.
Vi Peter atravessando a rua. Não precisou de cinco segundos entre o olhado do Bar com o do Boteco. Foi entrando no segundo, me viu na mesa do fundo e se sentou.
Pedi mais um copo pro tiozinho meio zonzo atrás do balcão, terça-feira e pra ele os dias não fazem diferença. Na real, nem pra mim. E aposto que nem pro Peter.
“E ai Teorias, como foi o trampo hoje?” acho que só olhei pra responder... Teste de Paciência Remunerado lembra? Apelido novo...
Uma cerveja, duas cervejas.
Mas minha vontade é de Conhaque. Sempre. Sempre ele.
Alguns pequenos Sonhos planejados nas palavras e nos comentários privados, vontade de cobrar o tio Jack por um deles. De ter tudo no papel, pra quem quiser ler.
“Sonhar não custa nada né Dreamer?” porque enquanto for de graça, foda-se, não importa o preço que eu pagar.
“Estou vazando daqui Pribo, não suporto mais me sentir menos cinza que os prédios, não suporto mais o Teste de Paciência Remunerado! O foda é que eu gosto de andar por aqui, pensar Funerais. Imaginar que muito do que eu sinto, isso aqui viveu”
Peter só me ouve. Mesmo sem saber, ele sabe. Ele é tipo eu.
E ele também sonha. Mesmo isso custando caro, ele liga o foda-se. Ele, o Fah, o Guinas, o Danones... Todos eles.
Não é a toa que nós viemos depois de tudo. E nos juntamos assim.
Não resisto e peço um Conhaque, puro, sem gelo, sem limão e muito menos mel.
O Peter me acompanha.
É sempre o conhaque.
O conhaque e os sonhos, nenhum dos dois diluído.
E assim o Centro me devora.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010




"Durmo quatro horas por noite, nos dias bons. Penso em café. Me transformo. Sento na frente do computador. Vejo um monte de teclas misturadas. Procuro tudo que não preciso em um lugar que não existe. Penso na teoria dos vaga-lumes, será que só os via porque eu era criança? Meu encanto se perdeu? Tomo suas dores pra mim e as abraço com toda a minha força. Me desdobro pra tirar um sorriso que é alheio à mim. Me esforço para fazer todas as coisas erradas o tempo todo, me esforço assim, para o errado mesmo. Penso nos Sonhadores e seus sonhos malucos transformados em palavras, não estou sozinha. Penso em todos os Sonhadores que se passam em minha cabeça, através das palavras. Penso em viver mais, mas precisaria morrer. Penso em tirar do pensamento tudo que deveria estar em uma gaveta empoeirada, trancada com uma chave pesada de ferro. Continuo no mecanismo entediante da rotina e como isso dura até às 17 horas. Mecanismo entediante de uns mil na mesma hora, na mesma intensidade, cada qual com seu individualismo aflorado na multidão. Contato involuntário, penso “as pessoas não ficam, sempre passam e evitam contato com o homem e seus desencantos...” Mais uma aula. Mais um dia. Mais uma página do caderno em branco. Mais um abraço ali do meu canto, em silêncio e sem contato. Mais um pensamento involuntário. Passa a catraca, guarda o cartão, abre o guarda-chuva, sente os pingos, pega o cartão, passa a catraca."

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Talvez.

Talvez eu pare no bar. Peça uma dose maior de sadismo dessa vez.
Peça até uma garrafa pra levar pra casa e fazer você beber comigo.

Nota: Imagino a bebida Sadismo como um conhaque, só que mais amargo. E um pouco doce também.

Talvez eu passe na sua casa, te ligue lá de baixo e diga pra você vir comigo.
Caminho pela rua uns dois passos mais atrás que você. Até você me pedir pra te acompanhar direito.
Talvez eu te chame pra subir no meu apartamento.
Talvez eu faça um bom jantar pra você, te dê uma taça de vinho meio cheia, só pra você achar que eu tenho classe. Não tenho classe nenhuma.
Talvez eu coloque uma música de fundo. Talvez seja um blues, talvez seja algo de rock clássico. Não sei ainda.
Talvez eu diga para se sentir a vontade, tirar os sapatos. Talvez você tire, talvez não.
E ao invés do sofá, talvez a gente se sente no tapete, olhando para o nada, contemplando o acaso.
Talvez eu coloque o Renato pra cantar um pouco.

“Quero que saibas que me lembro, queria até que pudesses me ver, és, parte ainda do que me faz forte, pra ser honesto, só um pouquinho infeliz...”

Talvez eu te diga para esquecer todos os problemas por uma noite apenas, pra deixar eu te fazer esquecê-los.
Talvez eu te beije meio sem jeito, sem saber sua reação.
Talvez eu pegue sua mão por simplesmente assim fazê-lo.



Talvez eu não faça nada.
Talvez compre uma cerveja e me sente, sem você.
Talvez eu não faça nada."

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Baseado em sonhos reais de uma noite qualquer.


Sem pêlo. 
Acho que estava sem pele também.
Me olhava com agonia.
Tentava nadar.
Mas das patas, só o osso.
Tentava respirar.
Mas a água,
o álcool,
o formol.
Não deixavam.
Ele queria se salvar,
mas já estava sem salvação.
E morria um pouco mais.
Falta de sorte, não?
Minha ou dele?
Nem eu sei.
E nem gritar ele podia.
E eu só olhava.
E já não sabia o que fazer.
Teria algo?
Acho que não mais.
Mas nem morrer por completo ele morria.
E aquele olhar continuava.
Boa sorte Coelho.
Sorte?
E acordei.



*realmente sonhei isso .-.