Ele desistiu de acreditar em tudo que se dizia do bem, que veio para salvar.
Política, medicina, futebol, tudo era patético e meramente placebo.
Sentava e via o pôr do sol da varanda de sua casa, ao mesmo tempo que respirava fundo,
sabendo que o mundo nunca havia sido justo e que não era agora que seria.
Isso ele não veria.
Rumou sua mente para um mundo de desapego, emocional e físico.
Desistiu de amar, pois aprendera o amor na infância,
sonho que foi destruído junto com o Papai Noel, o Coelho da Páscoa.
Andava quando não sabia o que fazer, saia sem rumo por sua própria história.
Buscando algum personagem que realmente existira em sua vida.
Solidão, a primeira personagem que encontrou e que lhe disse muito veementemente:
- Seremos sós, entre eu e você só existe um. Seremos nós, seremos ninguém e só assim seremos alguém.
Sem mais palavras, virou as costas e o deixou sozinho com suas próprias dúvidas, que para ela, a Solidão, deveriam ser resolvidas em seu infímo.
Continuou a longa jornada por seus personagens bizarros.
Dias e dias, sol nasce, sol se põe, lua cresce, lua mingua.
Não havia fome, não havia sono, não havia necessidade alguma.
Caminhar por caminhar. Era esse seu propósito.
Becos escuros seguidos de ruas ensolaradas, lugares tão dispares dentro de um só universo mínimo.
Se deparou com um espelho, um espelho que não o refletia, mas mostrava cenas, do passado, de seu passado.
O passado nunca está morto. Está ai, para atormentar o presente e ser assustado pelo futuro.
Nenhuma perfeição cruel rondou o passado. Muito pelo contrário,defeitos e mais defeitos, revividos com ênfase.
Pensou consigo mesmo: "Sem defeitos não existiria a perfeição e sem o conceito de perfeição não existiriam defeitos declarados.
O espelho se quebrou, os estilhaços se espalharam.
E desviando do vidro no chão, ele continuou sua busca utópica.
Se deparou com um jardim de rosas murchas. Rosas bem vermelhas em forma de coração. Suaves. Mas mortas.
Ali era o jardim do amor, das tentativas de preenchimento, do adubo essencial, o que claramente faltou.
Relembrou as aulas antigas de português, O Pequeno Príncipe: As rosas são egoístas e querem tudo pra si. Assim é o amor. Cravos são unicamente flores e inofensivos.
Um enorme casarão se erguia por detrás do jardim. Mas ele parecia estar vivo, pulsava. E pulsava. E mexia.
Era seu coração? Ele teria essa aparência? Um casarão abandonado?
As dúvidas foram maiores e ele não se contentou em deixar para si como havia dito à Senhora Solidão, de passos largos e devastadores, porém silenciosos.
Pronunciou em voz alta:
- Estou dentro de mim?
Eco. Eco. Eco.
Eco. Eco.
Eco.
Ec.
E.
.
O sol já havia partido e uma noite sem estrelas reinava superior no céu negro.
Levantou da varanda, secou o suor do rosto.
Deitou na cama.
E sonhou...
Que estava caminhando...
E encontrou uma...