segunda-feira, 23 de agosto de 2010


Caminhei horas, da manhã ao final da tarde.
Vi crianças brincando nos parques
E seus pais lendo jornais nos bancos.
Nunca vi muita graça em jornal,
Notícia velha juntando poeira.
Virando bola amassada na rua.
Também nunca gostei de parques.
Nem quando eu era criança.
Sempre preferi ficar em casa.
Sentei no velho balanço enferrujado,
Olhando o pôr do sol.
Coisa sem graça.
Só faz a gente pensar que a vida é mais bonita,
Só isso.
Já era noite, me levantei.
Entrei em uma padaria e pedi um café.
Café fraco e sem açúcar.
Típico:

Adoro não ter nada pra falar, não ser obrigado à dizer nada pra ninguém.
Adoro o silêncio.
Adoro me misturar aos sons da cidade,
Não ser ninguém.
Adoro não ter um final
E não estar aqui.
Adoro sumir por entre os carros,
Sem ao menos olhar a direção,
Que meus braços vagam até o chão.
E assim eu passo do passado ao presente.
Sem saber mais que horas são,
Nem onde estou.
Muito menos quem sou.
Já não vale nada.
Não vale a pena.
Nada.
Nunca.
Vale.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010



Você sabe que eu não sei parar.
Você sabe que eu não sei ficar parado.
Você sabe que eu quero abraçar o mundo.
Você sabe que eu sou teimoso.
Você sabe que as coisas são sempre do meu jeito.
Você sabe que minha vida não tem freios.
Você sabe que eu sou assim.
Você sabe porque você me escolheu.
Você sabe.
Você sempre sabe.
Sabe que eu mudo do nada para o nada.
Sabe que meu mundo é infinito;
Sabe que eu não sou uma coisa só.
Sabe que tudo é como deveria ser.
E se não é eu teimo mesmo assim.
Você sabe quando me machuca.
Você sabe quando precisa ir embora.
Mas você sempre fica.
Você sabe.
Sabe quando eu preciso de carinho.
Sabe quando eu preciso de bebida.
Sabe quando eu quero ouvir o silêncio.
Sabe quando precisa me falar algo.
Sabe que eu vou ser sempre assim.
Que eu nunca vou mudar.
Vem, vai, fica.
Nem você sabe.
Nem eu sei.
Sabe que seu cheiro me deixa louco.
Sabe que eu gosto de enlouquecer.
Sabe que eu não faço nada.
Mas que eu morro de vontade.
Sabe de todas as minhas loucuras,
e também minhas sanidades.
Sabe que eu não sei mudar.
Sabe que é parte do meu corpo.
E que sempre vai ser.
Sabe que é o café e não o leite.
Sabe que não tem frescura.
Não em mim.
Sabe que é puro tanto quanto arde.
Sabe que eu sou assim.
Morre e renasce todos os dias em mim.
Cresce e explode.
Cura e adoece.
Sempre assim.
Sempre ciclos.
Sempre tudo que eu não posso ser.
Não posso ter.
Nem sonhar.
Sabe.
Sempre sabe.
De tudo.
De todos.
E tudo acaba na mesma intensidade que começa.
Como um sonho.
Como uma xícara de café vazia.
Com borrão no fundo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

(Cena do filme 'Apenas O Fim', esse filme me afetou!)


Costume de ter dois pares de pegada.
Sempre.
Já não sei mais o som dos meus próprios passos.
E reconheço o valor do silêncio.
Dizer oi e só ouvir os ecos ao longe:
- Oi oi oi...
Reconheço o valor do eco.
Do simples.
E do eu.
Sorrir para o espelho
e ter meu tempo.
Meu próprio tempo.
Já não há mais validade nas palavras.
Meu silêncio.
E já não quero mais escutar.
Sempre tentamos.
Nunca aprendemos.
Tudo que um dia foi lei,
hoje é só papel rasgado.
Gasolina e queima.
Vira pó.
Dinheiro velho, sem valor.
Sem crédito.
Meus passos ecoam e eu ouço.
O valor do silêncio.
Palavras de renúncia,
treinadas em um palco vazio.
Melhor que platéia vazia.
Sem corpo e sem alma.
Sem olhar de vidro.
Apenas meus próprios passos.
E meu silêncio.
Meu.