terça-feira, 25 de maio de 2010

A caminhada.


Depois de crescer, descobrir que todos os heróis da sua infância não são reais.
Ele desistiu de acreditar em tudo que se dizia do bem, que veio para salvar.
Política, medicina, futebol, tudo era patético e meramente placebo.
Sentava e via o pôr do sol da varanda de sua casa, ao mesmo tempo que respirava fundo,
sabendo que o mundo nunca havia sido justo e que não era agora que seria.
Isso ele não veria.
Rumou sua mente para um mundo de desapego, emocional e físico.
Desistiu de amar, pois aprendera o amor na infância,
sonho que foi destruído junto com o Papai Noel, o Coelho da Páscoa.
Andava quando não sabia o que fazer, saia sem rumo por sua própria história.
Buscando algum personagem que realmente existira em sua vida.
Solidão, a primeira personagem que encontrou e que lhe disse muito veementemente:
- Seremos sós, entre eu e você só existe um. Seremos nós, seremos ninguém e só assim seremos alguém.
Sem mais palavras, virou as costas e o deixou sozinho com suas próprias dúvidas, que para ela, a Solidão, deveriam ser resolvidas em seu infímo.
Continuou a longa jornada por seus personagens bizarros.
Dias e dias, sol nasce, sol se põe, lua cresce, lua mingua.
Não havia fome, não havia sono, não havia necessidade alguma.
Caminhar por caminhar. Era esse seu propósito.
Becos escuros seguidos de ruas ensolaradas, lugares tão dispares dentro de um só universo mínimo.
Se deparou com um espelho, um espelho que não o refletia, mas mostrava cenas, do passado, de seu passado.
O passado nunca está morto. Está ai, para atormentar o presente e ser assustado pelo futuro.
Nenhuma perfeição cruel rondou o passado. Muito pelo contrário,defeitos e mais defeitos, revividos com ênfase.
Pensou consigo mesmo: "Sem defeitos não existiria a perfeição e sem o conceito de perfeição não existiriam defeitos declarados.
O espelho se quebrou, os estilhaços se espalharam.
E desviando do vidro no chão, ele continuou sua busca utópica.
Se deparou com um jardim de rosas murchas. Rosas bem vermelhas em forma de coração. Suaves. Mas mortas.
Ali era o jardim do amor, das tentativas de preenchimento, do adubo essencial, o que claramente faltou.
Relembrou as aulas antigas de português, O Pequeno Príncipe: As rosas são egoístas e querem tudo pra si. Assim é o amor. Cravos são unicamente flores e inofensivos.
Um enorme casarão se erguia por detrás do jardim. Mas ele parecia estar vivo, pulsava. E pulsava. E mexia.
Era seu coração? Ele teria essa aparência? Um casarão abandonado?
As dúvidas foram maiores e ele não se contentou em deixar para si como havia dito à Senhora Solidão, de passos largos e devastadores, porém silenciosos.
Pronunciou em voz alta:
- Estou dentro de mim?
Eco. Eco. Eco.
Eco. Eco.
Eco.
Ec.
E.
.


O sol já havia partido e uma noite sem estrelas reinava superior no céu negro.
Levantou da varanda, secou o suor do rosto.
Deitou na cama.
E sonhou...
Que estava caminhando...
E encontrou uma...

3 comentários:

Fah disse...

Uma mistura de nostalgia, maturidade, desesperança, Forrest Gump em passos mais lentos dentro de uma reflexão de deja vu sem fim? rs
De uns tempos pra cá – e nem faz pouco tempo isso – eu tenho reparado que todas as vezes que paro pra refletir sobre algo, acabo me deprimindo, de verdade! Não sei se é drama demais ou se realmente aquilo que eu penso em minhas reflexões é real e minha vida é uma bosta, assim como os rumos e decisões que tomei. Por isso, a única coisa que deixo refletir é o espelho. E ainda assim fujo dele. Talvez seja o mesmo espelho desse da historia hmmm.
Poxa, que legal essa sacada da solidão se “unir”. A solidão e o personagem. Dois que unidos, se tornam um e assim, ficam sós novamente. Genial isso.
Fiquei curioso em saber se aquele casarão abandonado tinha alguma mobília dentro dele ou algum outro sinal de moradia. Se por acaso alguém já habitou aquele lugar. Por que em algumas de minhas reflexões, adaptando ao seu post, pude perceber que no meu casarão não havia mobília nova, porem, o jardim que contornava o casarão estava cheio de pegadas, de quem passou por ali há pouco, porem, de fato, nunca adentrou o casarão, apesar de eu já as considerarem inquilinas.
E isso me poe a pensar que... para que hajam possíveis locatários, eu terei que replantar o jardim e tampar aquelas pegadas alem de colocar uma placa bem grande na entrada: DISPONÍVEL.
HAHAHA vou ali trocar o “relacionamento” do meu Orkut, perae.

Fah disse...

Desculpa por ontem, mas eu acabei capotando e só li sua msg no msn hj ta?

Gostei do post e fiz um coment enorme que mais uma vez, pode servir como post para um blog meu, pq não? HAHA

Gleisson disse...

Oi Cris
Adorei "A Caminhada". Acho que já fiz essa caminhada uma par de vezes nos meus sonhos noturnos. Uma mistura de ansiedade e devaneios. Becos, cemitérios, casas e objetos velhos sempre acompanharam minhas viajadas na maionese.
Parabéns e beijos do Tio Gleisson