segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O que te cansa em mim, me cansa.
Joga seu jogo de jogar e me joga, em mim.
E sei lá, talvez seja assim que é.
Há cansaço em tudo que há em mim.


Tem coisas do passado que parecem bolinha de borracha na minha cabeça,
batem e voltam com o dobro da força.
Só pra minha raiva aumentar mais.
Mais um soco na parede,
mais um nervo que reclama.


Normal...


Buzinas, carros, cachorros.
Nada de silêncio.
Mais um soco.
Mais um grito mudo.
Mais um gole seco.
Mais uma previsão,
previsível visão.
Me cansa.


Mais um silêncio que não existe.
Mais uma expectativa corrompida.




Mais nada...
Muitas pessoas me esperam na areia.
Gritam pra eu tomar uma cerveja, comer um camarão.
Mas eu continuo andando.
Cada vez mais para o fundo.
Até as vozes sumirem.
E só o barulho do mar encostar em meus ouvidos.
A roupa pesa em meu corpo.
As ondas batem no meu rosto, fazendo minha respiração descompassar.
Sinto o salgado entrar na minha boca mesmo sem querer.
Me sento no que julgo ser a areia no fundo,
não fico mais que alguns segundos.
Levanto e respiro fundo.
Minha cabeça está vazia.
E nada me atrapalha.
Olho para o céu e penso em uma foto bonita.
Lavo o rosto.
Salgado.
Não está frio.
O sol não incomoda também.
É simples assim,
meu ritual.
Estou em paz.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tela em Branco

Tem uma tela em branco na sua frente.
É meia noite e você não sabe com que letra começar.
Na verdade não sabe onde procurar.
Está escuro e as pessoas ainda conversam lá fora.
Precisa se distrair, precisa sair. É o que dizem os amigos.
A página ainda está em branco.
Uma da manhã, já está na cozinha preparando um café.
Não quer dormir, mas pior, não quer sonhar.
Uma caneca, duas, três. Parou de contar aí.
A tela em branco sorri pra você, você não sorri de volta.
Minimiza a tela, escolhe um filme.
Sabe que filme é, já viu algumas vezes.
Baba no travesseiro, não está dormindo.
Não está acordado.
Volta para o bloco de notas.
O filme minimizado continua com suas falas em outro idioma.
Quer coca.
Abre a geladeira, vira o resto da garrafa na caneca.
Coca, café, coquetel molotov de insone.
Duas e meia.
Que nunca passam.
Ouve o guarda noturno resmungar na rua.
Tudo fica bem resmungando.
A falsa ilusão de falar consigo e achar que ninguém mais está escutando.
O barulho do teclado de repente parece ensurdecedor.
Vai acordar o prédio inteiro.
Ouve o porteiro roncar.
Duas e quarenta.
O tempo não passa.
Os olhos ficam pesados, mas o sono nunca vem.
Pega um livro qualquer que você já leu, tenta ler mais uma vez.
Lê a mesma frase quinze vezes, desiste.
Vai fuçar tudo que não precisa.
Fotos que não quer ver.
Palavras que não quer ler.
Mas os olhos pesados seguem.
Ouve o portão abrindo, alguém chegando, alguém rindo.
Um carro que estava parado, dá a partida.
Escuta o barulho do motor por uns trinta segundos, conta no relógio.
Vê o ponteiro dar três voltas completas, até querer jogá-lo na parede.
Vai até o banheiro, lava o rosto.
Agora sim, tchau sono.
Estrala todas as juntas do corpo, se sente um velho.
Vai até a sacada e olha a rua. Nada de novo.
Ninguém.
Todos quietos e dormindo.
Só os cachorros se comunicam.
Porque quando todos dormem, é a vez dos cachorros.
Sempre eles.
Parece que entende o que eles dizem.
Não aguentam ficar presos.
"Nem eu amigos" resmunga.
A falsa ilusão...
Volta para o quarto, deita na cama.
Pega o telefone.
Velha história: verde ou vermelho?
Três horas.
A tela continua em branco.
E o tempo não passou.
Se sufoca com o travesseiro.
Para antes de se sentir mal.
Mais um carro na rua, mais uma risada.
Levanta, encara a tela branca.
Botão vermelho.
Desliga o celular.
Pega o telefone de casa, tenta lembrar o número.
Desliga antes de conseguir.
Duelo de egos.
Sente um vento fresco entrar pela janela.
Nem se dá ao trabalho de olhar a hora.
Pega o violão.
Tenta uma ou duas notas.
Mas o barulho o assusta.
Larga o violão.
Não se aguenta, quatro horas.
Liga a televisão.
Putaria, igreja, compras, putaria, igreja, compras, jornal, bois, putaria, compras, igreja.
Em um canal, a apresentadora mostra um jogo.
Nível difícil.
Bicho de jardim com sete letras.
Aperta o vermelho, a tela apaga.
Logo tem que acordar pra trabalhar.
Mas e se não tiver dormido?
Logo será assim.
Levanta, toma banho, toma café, toma ônibus, toma bronca...
Toma tudo.
Chega em casa, toma banho, toma café...
Até dar meia noite.
Ai tudo para de funcionar.
O sono some.
E a tela continua em branco.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

De repente parecia que eu tinha dormido por uma eternidade. Parecia que o efeito da bebida da noite passada não tinha passado. E que a ressaca me consumia. Tinha um peso em cada um dos meus poros, suados, cansados. A adrenalina ainda pulsava no meu sangue, fazendo ele correr quente por minhas veias. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que estava parado. Eu estava dormindo acordado? Estava acordado enquanto achava que estava dormindo?
Abri os olhos. Uma claridade me cegou por alguns instantes, mas não entendi. Estava escuro quando eu dormi. Quanto tempo eu fiquei na cama? Mas espera, esse não era meu quarto. E definitivamente eu não dormia com pequenos tubos ligados ao meu nariz. Nem respirar doía tanto.
Tentei levantar um braço, mas os poros ainda estava pesados, cheios de suor. E o esforço foi em vão. Meus dedos estava duros e cerrar os punhos parecia uma tarefa de maratonista. Esporte nunca foi meu forte, nem insistir em nada. Desisti.
Pensei em dormir de novo, mas vi que não conseguiria, não agora. Não enquanto não visse de onde vinha toda essa luz.
Minha boca estava seca, sem saliva, com um gosto de ferro. Tentei entender, mas não consegui.
Mas a luz ainda me cegava e eu não entendia nada ainda.
Uns barulhos de ferro sendo cortado surgiram em meus ouvidos. Mas não vinham de fora, vinham de dentro, bem de dentro. O que me assustou um pouco, um susto sem reação.
Dormi mais um pouco.
Acordei leve, ainda cego por toda aquela luz. Me levantei com todo o cuidado. O suor dos meus poros tinha sumido e eu já podia me mover sem pressa nem peso.
Sai da cama e fui caminhando. Acho que andei em círculos. Me sentei em um sofá e fiquei olhando.
Acho que era noite, pois ninguém andava por ali.
Só um cara deitado em uma cama, tentando se mover, como se andasse sem passo algum. Vi que ele estava doente, ou machucado. E pensei no que deveria ter acontecido com ele.

Então me veio à mente...

O carro...

A chuva...

O caminhão...

E o escuro.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E assim o Centro me devora...

(Petermalvado e Teorias de Viver...We are the Fucking Dreamers!)

Perto do Bar Brahma tem um boteco. Parei entre os dois e tentei escolher. Escolhi o boteco. Me sentei e pedi uma Skol, só para fortalecer minha escolhar, que a Brahma se foda, ela e seu bar pra empresários e estudantes de história que se acham intelectuais o suficiente para discutir pontos da atualidade tomando um chopp importado e ouvindo jazz.
Esperei o Peter chegar, ele demorava uma hora a mais que eu pra sair Teste de Paciência Remunerado dele.
Fiquei ali olhando as pessoas que estavam sentadas pelo boteco. Um velho com os dedos cheios de cascas e feridas, o velho do Centro. Nada mais combina tanto com o lugar. Na verdade todos ali combinam com o Centro. Velhos, cansados, sujos e de almas perdidas. Eu não sou velha, mas estou cansada e suja. Suja de mim até as orelhas.
Vi Peter atravessando a rua. Não precisou de cinco segundos entre o olhado do Bar com o do Boteco. Foi entrando no segundo, me viu na mesa do fundo e se sentou.
Pedi mais um copo pro tiozinho meio zonzo atrás do balcão, terça-feira e pra ele os dias não fazem diferença. Na real, nem pra mim. E aposto que nem pro Peter.
“E ai Teorias, como foi o trampo hoje?” acho que só olhei pra responder... Teste de Paciência Remunerado lembra? Apelido novo...
Uma cerveja, duas cervejas.
Mas minha vontade é de Conhaque. Sempre. Sempre ele.
Alguns pequenos Sonhos planejados nas palavras e nos comentários privados, vontade de cobrar o tio Jack por um deles. De ter tudo no papel, pra quem quiser ler.
“Sonhar não custa nada né Dreamer?” porque enquanto for de graça, foda-se, não importa o preço que eu pagar.
“Estou vazando daqui Pribo, não suporto mais me sentir menos cinza que os prédios, não suporto mais o Teste de Paciência Remunerado! O foda é que eu gosto de andar por aqui, pensar Funerais. Imaginar que muito do que eu sinto, isso aqui viveu”
Peter só me ouve. Mesmo sem saber, ele sabe. Ele é tipo eu.
E ele também sonha. Mesmo isso custando caro, ele liga o foda-se. Ele, o Fah, o Guinas, o Danones... Todos eles.
Não é a toa que nós viemos depois de tudo. E nos juntamos assim.
Não resisto e peço um Conhaque, puro, sem gelo, sem limão e muito menos mel.
O Peter me acompanha.
É sempre o conhaque.
O conhaque e os sonhos, nenhum dos dois diluído.
E assim o Centro me devora.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010




"Durmo quatro horas por noite, nos dias bons. Penso em café. Me transformo. Sento na frente do computador. Vejo um monte de teclas misturadas. Procuro tudo que não preciso em um lugar que não existe. Penso na teoria dos vaga-lumes, será que só os via porque eu era criança? Meu encanto se perdeu? Tomo suas dores pra mim e as abraço com toda a minha força. Me desdobro pra tirar um sorriso que é alheio à mim. Me esforço para fazer todas as coisas erradas o tempo todo, me esforço assim, para o errado mesmo. Penso nos Sonhadores e seus sonhos malucos transformados em palavras, não estou sozinha. Penso em todos os Sonhadores que se passam em minha cabeça, através das palavras. Penso em viver mais, mas precisaria morrer. Penso em tirar do pensamento tudo que deveria estar em uma gaveta empoeirada, trancada com uma chave pesada de ferro. Continuo no mecanismo entediante da rotina e como isso dura até às 17 horas. Mecanismo entediante de uns mil na mesma hora, na mesma intensidade, cada qual com seu individualismo aflorado na multidão. Contato involuntário, penso “as pessoas não ficam, sempre passam e evitam contato com o homem e seus desencantos...” Mais uma aula. Mais um dia. Mais uma página do caderno em branco. Mais um abraço ali do meu canto, em silêncio e sem contato. Mais um pensamento involuntário. Passa a catraca, guarda o cartão, abre o guarda-chuva, sente os pingos, pega o cartão, passa a catraca."

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Talvez.

Talvez eu pare no bar. Peça uma dose maior de sadismo dessa vez.
Peça até uma garrafa pra levar pra casa e fazer você beber comigo.

Nota: Imagino a bebida Sadismo como um conhaque, só que mais amargo. E um pouco doce também.

Talvez eu passe na sua casa, te ligue lá de baixo e diga pra você vir comigo.
Caminho pela rua uns dois passos mais atrás que você. Até você me pedir pra te acompanhar direito.
Talvez eu te chame pra subir no meu apartamento.
Talvez eu faça um bom jantar pra você, te dê uma taça de vinho meio cheia, só pra você achar que eu tenho classe. Não tenho classe nenhuma.
Talvez eu coloque uma música de fundo. Talvez seja um blues, talvez seja algo de rock clássico. Não sei ainda.
Talvez eu diga para se sentir a vontade, tirar os sapatos. Talvez você tire, talvez não.
E ao invés do sofá, talvez a gente se sente no tapete, olhando para o nada, contemplando o acaso.
Talvez eu coloque o Renato pra cantar um pouco.

“Quero que saibas que me lembro, queria até que pudesses me ver, és, parte ainda do que me faz forte, pra ser honesto, só um pouquinho infeliz...”

Talvez eu te diga para esquecer todos os problemas por uma noite apenas, pra deixar eu te fazer esquecê-los.
Talvez eu te beije meio sem jeito, sem saber sua reação.
Talvez eu pegue sua mão por simplesmente assim fazê-lo.



Talvez eu não faça nada.
Talvez compre uma cerveja e me sente, sem você.
Talvez eu não faça nada."