terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tela em Branco

Tem uma tela em branco na sua frente.
É meia noite e você não sabe com que letra começar.
Na verdade não sabe onde procurar.
Está escuro e as pessoas ainda conversam lá fora.
Precisa se distrair, precisa sair. É o que dizem os amigos.
A página ainda está em branco.
Uma da manhã, já está na cozinha preparando um café.
Não quer dormir, mas pior, não quer sonhar.
Uma caneca, duas, três. Parou de contar aí.
A tela em branco sorri pra você, você não sorri de volta.
Minimiza a tela, escolhe um filme.
Sabe que filme é, já viu algumas vezes.
Baba no travesseiro, não está dormindo.
Não está acordado.
Volta para o bloco de notas.
O filme minimizado continua com suas falas em outro idioma.
Quer coca.
Abre a geladeira, vira o resto da garrafa na caneca.
Coca, café, coquetel molotov de insone.
Duas e meia.
Que nunca passam.
Ouve o guarda noturno resmungar na rua.
Tudo fica bem resmungando.
A falsa ilusão de falar consigo e achar que ninguém mais está escutando.
O barulho do teclado de repente parece ensurdecedor.
Vai acordar o prédio inteiro.
Ouve o porteiro roncar.
Duas e quarenta.
O tempo não passa.
Os olhos ficam pesados, mas o sono nunca vem.
Pega um livro qualquer que você já leu, tenta ler mais uma vez.
Lê a mesma frase quinze vezes, desiste.
Vai fuçar tudo que não precisa.
Fotos que não quer ver.
Palavras que não quer ler.
Mas os olhos pesados seguem.
Ouve o portão abrindo, alguém chegando, alguém rindo.
Um carro que estava parado, dá a partida.
Escuta o barulho do motor por uns trinta segundos, conta no relógio.
Vê o ponteiro dar três voltas completas, até querer jogá-lo na parede.
Vai até o banheiro, lava o rosto.
Agora sim, tchau sono.
Estrala todas as juntas do corpo, se sente um velho.
Vai até a sacada e olha a rua. Nada de novo.
Ninguém.
Todos quietos e dormindo.
Só os cachorros se comunicam.
Porque quando todos dormem, é a vez dos cachorros.
Sempre eles.
Parece que entende o que eles dizem.
Não aguentam ficar presos.
"Nem eu amigos" resmunga.
A falsa ilusão...
Volta para o quarto, deita na cama.
Pega o telefone.
Velha história: verde ou vermelho?
Três horas.
A tela continua em branco.
E o tempo não passou.
Se sufoca com o travesseiro.
Para antes de se sentir mal.
Mais um carro na rua, mais uma risada.
Levanta, encara a tela branca.
Botão vermelho.
Desliga o celular.
Pega o telefone de casa, tenta lembrar o número.
Desliga antes de conseguir.
Duelo de egos.
Sente um vento fresco entrar pela janela.
Nem se dá ao trabalho de olhar a hora.
Pega o violão.
Tenta uma ou duas notas.
Mas o barulho o assusta.
Larga o violão.
Não se aguenta, quatro horas.
Liga a televisão.
Putaria, igreja, compras, putaria, igreja, compras, jornal, bois, putaria, compras, igreja.
Em um canal, a apresentadora mostra um jogo.
Nível difícil.
Bicho de jardim com sete letras.
Aperta o vermelho, a tela apaga.
Logo tem que acordar pra trabalhar.
Mas e se não tiver dormido?
Logo será assim.
Levanta, toma banho, toma café, toma ônibus, toma bronca...
Toma tudo.
Chega em casa, toma banho, toma café...
Até dar meia noite.
Ai tudo para de funcionar.
O sono some.
E a tela continua em branco.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

De repente parecia que eu tinha dormido por uma eternidade. Parecia que o efeito da bebida da noite passada não tinha passado. E que a ressaca me consumia. Tinha um peso em cada um dos meus poros, suados, cansados. A adrenalina ainda pulsava no meu sangue, fazendo ele correr quente por minhas veias. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que estava parado. Eu estava dormindo acordado? Estava acordado enquanto achava que estava dormindo?
Abri os olhos. Uma claridade me cegou por alguns instantes, mas não entendi. Estava escuro quando eu dormi. Quanto tempo eu fiquei na cama? Mas espera, esse não era meu quarto. E definitivamente eu não dormia com pequenos tubos ligados ao meu nariz. Nem respirar doía tanto.
Tentei levantar um braço, mas os poros ainda estava pesados, cheios de suor. E o esforço foi em vão. Meus dedos estava duros e cerrar os punhos parecia uma tarefa de maratonista. Esporte nunca foi meu forte, nem insistir em nada. Desisti.
Pensei em dormir de novo, mas vi que não conseguiria, não agora. Não enquanto não visse de onde vinha toda essa luz.
Minha boca estava seca, sem saliva, com um gosto de ferro. Tentei entender, mas não consegui.
Mas a luz ainda me cegava e eu não entendia nada ainda.
Uns barulhos de ferro sendo cortado surgiram em meus ouvidos. Mas não vinham de fora, vinham de dentro, bem de dentro. O que me assustou um pouco, um susto sem reação.
Dormi mais um pouco.
Acordei leve, ainda cego por toda aquela luz. Me levantei com todo o cuidado. O suor dos meus poros tinha sumido e eu já podia me mover sem pressa nem peso.
Sai da cama e fui caminhando. Acho que andei em círculos. Me sentei em um sofá e fiquei olhando.
Acho que era noite, pois ninguém andava por ali.
Só um cara deitado em uma cama, tentando se mover, como se andasse sem passo algum. Vi que ele estava doente, ou machucado. E pensei no que deveria ter acontecido com ele.

Então me veio à mente...

O carro...

A chuva...

O caminhão...

E o escuro.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E assim o Centro me devora...

(Petermalvado e Teorias de Viver...We are the Fucking Dreamers!)

Perto do Bar Brahma tem um boteco. Parei entre os dois e tentei escolher. Escolhi o boteco. Me sentei e pedi uma Skol, só para fortalecer minha escolhar, que a Brahma se foda, ela e seu bar pra empresários e estudantes de história que se acham intelectuais o suficiente para discutir pontos da atualidade tomando um chopp importado e ouvindo jazz.
Esperei o Peter chegar, ele demorava uma hora a mais que eu pra sair Teste de Paciência Remunerado dele.
Fiquei ali olhando as pessoas que estavam sentadas pelo boteco. Um velho com os dedos cheios de cascas e feridas, o velho do Centro. Nada mais combina tanto com o lugar. Na verdade todos ali combinam com o Centro. Velhos, cansados, sujos e de almas perdidas. Eu não sou velha, mas estou cansada e suja. Suja de mim até as orelhas.
Vi Peter atravessando a rua. Não precisou de cinco segundos entre o olhado do Bar com o do Boteco. Foi entrando no segundo, me viu na mesa do fundo e se sentou.
Pedi mais um copo pro tiozinho meio zonzo atrás do balcão, terça-feira e pra ele os dias não fazem diferença. Na real, nem pra mim. E aposto que nem pro Peter.
“E ai Teorias, como foi o trampo hoje?” acho que só olhei pra responder... Teste de Paciência Remunerado lembra? Apelido novo...
Uma cerveja, duas cervejas.
Mas minha vontade é de Conhaque. Sempre. Sempre ele.
Alguns pequenos Sonhos planejados nas palavras e nos comentários privados, vontade de cobrar o tio Jack por um deles. De ter tudo no papel, pra quem quiser ler.
“Sonhar não custa nada né Dreamer?” porque enquanto for de graça, foda-se, não importa o preço que eu pagar.
“Estou vazando daqui Pribo, não suporto mais me sentir menos cinza que os prédios, não suporto mais o Teste de Paciência Remunerado! O foda é que eu gosto de andar por aqui, pensar Funerais. Imaginar que muito do que eu sinto, isso aqui viveu”
Peter só me ouve. Mesmo sem saber, ele sabe. Ele é tipo eu.
E ele também sonha. Mesmo isso custando caro, ele liga o foda-se. Ele, o Fah, o Guinas, o Danones... Todos eles.
Não é a toa que nós viemos depois de tudo. E nos juntamos assim.
Não resisto e peço um Conhaque, puro, sem gelo, sem limão e muito menos mel.
O Peter me acompanha.
É sempre o conhaque.
O conhaque e os sonhos, nenhum dos dois diluído.
E assim o Centro me devora.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010




"Durmo quatro horas por noite, nos dias bons. Penso em café. Me transformo. Sento na frente do computador. Vejo um monte de teclas misturadas. Procuro tudo que não preciso em um lugar que não existe. Penso na teoria dos vaga-lumes, será que só os via porque eu era criança? Meu encanto se perdeu? Tomo suas dores pra mim e as abraço com toda a minha força. Me desdobro pra tirar um sorriso que é alheio à mim. Me esforço para fazer todas as coisas erradas o tempo todo, me esforço assim, para o errado mesmo. Penso nos Sonhadores e seus sonhos malucos transformados em palavras, não estou sozinha. Penso em todos os Sonhadores que se passam em minha cabeça, através das palavras. Penso em viver mais, mas precisaria morrer. Penso em tirar do pensamento tudo que deveria estar em uma gaveta empoeirada, trancada com uma chave pesada de ferro. Continuo no mecanismo entediante da rotina e como isso dura até às 17 horas. Mecanismo entediante de uns mil na mesma hora, na mesma intensidade, cada qual com seu individualismo aflorado na multidão. Contato involuntário, penso “as pessoas não ficam, sempre passam e evitam contato com o homem e seus desencantos...” Mais uma aula. Mais um dia. Mais uma página do caderno em branco. Mais um abraço ali do meu canto, em silêncio e sem contato. Mais um pensamento involuntário. Passa a catraca, guarda o cartão, abre o guarda-chuva, sente os pingos, pega o cartão, passa a catraca."

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Talvez.

Talvez eu pare no bar. Peça uma dose maior de sadismo dessa vez.
Peça até uma garrafa pra levar pra casa e fazer você beber comigo.

Nota: Imagino a bebida Sadismo como um conhaque, só que mais amargo. E um pouco doce também.

Talvez eu passe na sua casa, te ligue lá de baixo e diga pra você vir comigo.
Caminho pela rua uns dois passos mais atrás que você. Até você me pedir pra te acompanhar direito.
Talvez eu te chame pra subir no meu apartamento.
Talvez eu faça um bom jantar pra você, te dê uma taça de vinho meio cheia, só pra você achar que eu tenho classe. Não tenho classe nenhuma.
Talvez eu coloque uma música de fundo. Talvez seja um blues, talvez seja algo de rock clássico. Não sei ainda.
Talvez eu diga para se sentir a vontade, tirar os sapatos. Talvez você tire, talvez não.
E ao invés do sofá, talvez a gente se sente no tapete, olhando para o nada, contemplando o acaso.
Talvez eu coloque o Renato pra cantar um pouco.

“Quero que saibas que me lembro, queria até que pudesses me ver, és, parte ainda do que me faz forte, pra ser honesto, só um pouquinho infeliz...”

Talvez eu te diga para esquecer todos os problemas por uma noite apenas, pra deixar eu te fazer esquecê-los.
Talvez eu te beije meio sem jeito, sem saber sua reação.
Talvez eu pegue sua mão por simplesmente assim fazê-lo.



Talvez eu não faça nada.
Talvez compre uma cerveja e me sente, sem você.
Talvez eu não faça nada."

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Baseado em sonhos reais de uma noite qualquer.


Sem pêlo. 
Acho que estava sem pele também.
Me olhava com agonia.
Tentava nadar.
Mas das patas, só o osso.
Tentava respirar.
Mas a água,
o álcool,
o formol.
Não deixavam.
Ele queria se salvar,
mas já estava sem salvação.
E morria um pouco mais.
Falta de sorte, não?
Minha ou dele?
Nem eu sei.
E nem gritar ele podia.
E eu só olhava.
E já não sabia o que fazer.
Teria algo?
Acho que não mais.
Mas nem morrer por completo ele morria.
E aquele olhar continuava.
Boa sorte Coelho.
Sorte?
E acordei.



*realmente sonhei isso .-.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Fragmentos, pensamentos, projetos...

..inacabados.



"E eu saberia como agir e eu saberia como pensar.
E eu teria menos medos (ou talvez seja exatamente o contrário e eu tenha mais)."



"Se você achar que o impossível não é suficiente,
eu vou além.
Se você achar que ainda não é nada,
eu te mostro um pouco mais."


"Por todo desinteresse e desilução do mundo e com o mundo
ao sair em (eterna) busca da felicidade, encontrou a paz
e assim puderam juntos descançar."


"A vida é um soco no estômago.
Não mais que um tapa na cara são as indigestões que vivemos."






terça-feira, 5 de outubro de 2010



Respiro todo o ar à minha volta com delicadeza.
Como se, ao inalá-lo forte, ele fosse explodir dentro de mim.
Manter a calma.
Ouço o barulho da respiração.
Fortemente delicada.
A vontade de mudar o mundo ao meu redor.
Estranheza.
Não reconheço mais lugar algum.
Nenhuma casa, nenhum rosto.
Buscando meios de encontrar um lugar.
Meu lugar.
Buscando meios de sair dessa poluição.
Não sei o que quero,
Mas sei bem como quero.
E não tenho ideia de como conseguir assim.
Você me dá razão ou nem sequer entende.
Incomodo constante.
E a falta de algo que eu não sei o que é.
As novidades estão ai, largadas em algum canto.
Cheias de pó e esquecidas.
Não há o que me faça sentir aquele cheiro de livro novo, que lembra algo bom.
Respiro delicadamente.
Uma bomba prestes à explodir?
Dentro de seu pequeno universo nuclear.
Meia maratona e o ar não é mais delicado.
Enche os peitos, mas só inspira.
Esvazia.
Pneu velho e sem uso.
Vira bóia.
Bóia.
E uma hora some.
Coceira na palma na mão,
Querendo agarrar algo que não existe.
Mas não adianta.
Não existe.

Sempre cortando as expectativas.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

We are the dreamers...



As lembranças que me vieram à mente por hora.

Chuva, domingo, cheguei do shopping, tirei meu Cálice de Fogo da sacola amarela da Nobel e coloquei em cima do sofá. Fui até meu quarto, peguei meu colchão, coloquei na sala (estava frio e chovia), peguei também um cobertor e um travesseiro, deitei e devorei aquele livro (só a antropofagia nos une) e cheguei feliz na escola, com o livro debaixo do braço, pra mostrar para os amigos a nova aquisição. 2001.














Primo de Goiás pra cá. Casa do pai uma noite. Bonequinhos de Harry Potter e um cd da Legião Urbana (Mais do Mesmo). Minha paixão por Faroeste Caboclo começou ali. Meus arrepios em Pais e Filhos também. Lembro desses bonequinhos (acho que os perdi) e lembro do Renato cantando e do primo falando. 2001 ou 2002...

Galeria do Rock. Lírio aos Anjos $15, A História Não Tem Fim $10, A Valsa das Águas Vivas $10 e mais algumas bugigangas. Selene, não tem outra pra lembrar.

Sítio, lendo Harry Potter 7 na cama, com o dia nublado lá fora. Ouvindo muito Insônia 2008. Coração meio partido, mas sorriso de nem ligando. 2007.

Praia Grande. Calor infernal, família. Insônia 2008 corrompendo meus ouvidos durante uma semana, sem interruções. Uma semana para esquecer, esqueci. 2008.

Paulista, câmera na mão, luzes e mais luzes. Uma vontade enorme e a falta de possibilidade. Soco no poste. Raiva, frustração, felicidade e queria uma cerveja. Fotos e mais fotos. Fotos de um fim de ano. 2009.

A certeza que um ano novo não conserta velhas mágoas. A certeza que um ano novo é só mais um dia comum...

E nós vamos continuar aqui...esperando viver.

Onde estarei daqui 2 meses e alguns dias?
Ah dezembro, hoje você acordou na minha memória! E fazer ela retomar todas as lembranças multisensoriais que me movem!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010



Passei ali, na rua São Luiz. Meu único ponto de vendas e procurei meus rapazes. Andei por toda a extensão que pude, uns três quarteirões, voltei. Só para garantir e nada. Atravessei a rua tentando encontrar do outro lado. Andei os mesmos três quarteirões e voltei, só para garantir. E nada. Meus rapazes tinham sumido.
Havia policiais andando por todos os lados, com sorrisos nos rostos. Tinham levado meus rapazes.
Entrei em desespero.
Transtornado, entrei em uma padaria e pedi logo uma cerveja. Plena segunda-feira, dez horas da manhã.
Sentei no banco mais distante do último cliente, queria distância. Tinham sumido com os meus rapazes.
E agora? Com quem e onde eu compraria? Não compraria.
Teria que passar a viver sem. Coisa não muito difícil nos tempos atuais. Mas eu estava viciado. Precisava dos meus rapazes pra comprar.
A cerveja descia rasgando a garganta, como se também precisasse disso pra me refrescar por dentro. Não tinha espírito, não tinha sentido algum.
Saí mais uma vez e parei olhando a rua, sem rumo algum. Porcaria de vício.
Entrei na primeira “galeria” que encontrei e pedi um. O cara me olhou como se eu fosse um et, algo fora do mundo, desconexo. Sim, eu sei.


É, corações tamanho P tinham acabado pra mim e o meu já tinha passado do prazo de validade.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

(Foto por: @AndrehSantos - Flickr aqui )

Plena Sé, oito horas da manhã.
Se sente uma sardinha morta, dentro da lata.
O sono bateu, mesmo depois de duas xícaras de café na padaria da esquina.
Colocou o fone no ouvido.
Porrada logo cedo.
Mas o sono continua.
Desce um, desce dois, mas o metrô continua lotado.
Gente com sono e cansada.
Gente folgada e gente aleatória.
Sardinhas de espécies diferentes.
Automaticamente, desce na próxima estação.
Sobe a escada.
Sobe a escada rolante.
Sobe a rua.
Entra no escritório.
Coloca o paletó na cadeira.
Pega mais um café.
O dia vem, o dia vai.
Tudo igual.
Piloto automático mode on.
Abre o livro:

Sua vida de trás pra frente:

O dia vai, o dia vem.
Joga o copo descartável no lixo.
Coloca de volta o paletó.
Desce a rua.
Desce a escada rolante.
Desce a escada.
Entra no vagão.
Sardinhas de espécies diferentes.
Gente aleatória e gente folgada.
Gente cansada e com sono.
Desce dois, desce um e o metrô vai esvaziando.
O sono volta depois de um tempo.
Nem ouve mais música.
Oito copinhos de café no expediente, mas o sono continua.
Se sente uma sardinha morta e extremamente cansada, dentro da lata.
Plena Sé, seis da tarde.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Para você (e eu sei que vai ler)

Você me conhece. Sabe recobrar todos os meus sentidos. Mesmo quando eu acho que não tenho ideia do que estou fazendo. O pulso a milhão, me ajuda a entender que preciso reduzir o ritmo sem criar expectativas. Mas você também sabe que na medida que pulsa forte e reanima, me acalma e me deixa em paz. É, vai entender.
Você sabe que tudo não passa de um teste, certo? Um teste que dura a vida toda. Suor, calafrios, lágrimas. É tudo parte desse teste que nos mata pouco a pouco.
E você pensa (e como pensa viu?!), coloca tudo em contas, mas nunca abre mão do mecanismo, do artificial.
Tenho vontade de sair correndo, feito sangue pelas veias e te sacudir e te mostrar como é ser real. Como é ser dor, ser pecado, ser mortal. Não ter limites de velocidade, não ter engrenagens e ser apenas livre.
Ai, você para e pensa ‘que loucura é essa?’, assim sou eu. Eu não sei mudar. E sei que você sabe que eu não sei. E não quero saber. E sabe porquê? Porque não ter limites me faz viver (sim, do mesmo jeito que me mata).

Hoje eu sou assim, mas não estou. Estar é um pouco efêmero.
Eu sou (eterno).
Enquanto pulsar minha última gota.



Your H.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Diálogo na chuva.

- Vem, vamos conversar. Vamos sair.
- Agora?
- Agora!
- Mas está chovendo!
- E daí?
- Você quer sair na chuva?
- Quero sair. E ponto.
- Ok, então vamos.
- Cuidado com a poça.
- Pra que cuidado? Já me molhei dos pés à cabeça!
- Você que sabe.
- O que você quer falar?
- Ainda não... Espera mais um pouco, vamos andando.
- Andando pra onde meu Deus?!
- Pra lugar nenhum! Só... hm, cuidado com a poça!
- Fala logo, estou começando à ficar com frio.
- Mas ta um calor da porra! Vamos comprar uma cerveja, ai eu falo, ok?
- Ok, vamos sim.
- Latinha ou garrafa?
- Odeio latinha, então garrafa!
- 2 garrafas de Skol!
- É pra já amigo!
- Então, vamos sentar ali fora, quero saber o que tanto você quer falar e não fala!
- Então vamos, já que você quer saber, mas pula a poça!
- Mas que porra, deixa eu pisar na poça!
- Como você consegue?
- Afinal, foi você que me chamou aqui. O que aconteceu?
- Nada.
- Nada?
- ...
-...
- É que eu não aguento mais. Eu surto, eu piro. E eu preciso de mim.
- Traduzindo: você não quer mais ficar comigo, é isso?
- Basicamente.
- Basicamente?
- É... É melhor assim, para nós.
- E o que acontece agora?
- Não sei.
- Vou embora.
- Já?
- Melhor.
- Cuidado com a poça.
- Você ainda se importa.
- ...
- Viu?
- Quem disse.
- Você.
- Nunca disse isso.
- Não com essas palavras.
- E como eu disse?
- Pelas poças.
- Pelas poças?
- É, você se importa.
- É, eu me importo.
- Tchau.
- ...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010


Caminhei horas, da manhã ao final da tarde.
Vi crianças brincando nos parques
E seus pais lendo jornais nos bancos.
Nunca vi muita graça em jornal,
Notícia velha juntando poeira.
Virando bola amassada na rua.
Também nunca gostei de parques.
Nem quando eu era criança.
Sempre preferi ficar em casa.
Sentei no velho balanço enferrujado,
Olhando o pôr do sol.
Coisa sem graça.
Só faz a gente pensar que a vida é mais bonita,
Só isso.
Já era noite, me levantei.
Entrei em uma padaria e pedi um café.
Café fraco e sem açúcar.
Típico:

Adoro não ter nada pra falar, não ser obrigado à dizer nada pra ninguém.
Adoro o silêncio.
Adoro me misturar aos sons da cidade,
Não ser ninguém.
Adoro não ter um final
E não estar aqui.
Adoro sumir por entre os carros,
Sem ao menos olhar a direção,
Que meus braços vagam até o chão.
E assim eu passo do passado ao presente.
Sem saber mais que horas são,
Nem onde estou.
Muito menos quem sou.
Já não vale nada.
Não vale a pena.
Nada.
Nunca.
Vale.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010



Você sabe que eu não sei parar.
Você sabe que eu não sei ficar parado.
Você sabe que eu quero abraçar o mundo.
Você sabe que eu sou teimoso.
Você sabe que as coisas são sempre do meu jeito.
Você sabe que minha vida não tem freios.
Você sabe que eu sou assim.
Você sabe porque você me escolheu.
Você sabe.
Você sempre sabe.
Sabe que eu mudo do nada para o nada.
Sabe que meu mundo é infinito;
Sabe que eu não sou uma coisa só.
Sabe que tudo é como deveria ser.
E se não é eu teimo mesmo assim.
Você sabe quando me machuca.
Você sabe quando precisa ir embora.
Mas você sempre fica.
Você sabe.
Sabe quando eu preciso de carinho.
Sabe quando eu preciso de bebida.
Sabe quando eu quero ouvir o silêncio.
Sabe quando precisa me falar algo.
Sabe que eu vou ser sempre assim.
Que eu nunca vou mudar.
Vem, vai, fica.
Nem você sabe.
Nem eu sei.
Sabe que seu cheiro me deixa louco.
Sabe que eu gosto de enlouquecer.
Sabe que eu não faço nada.
Mas que eu morro de vontade.
Sabe de todas as minhas loucuras,
e também minhas sanidades.
Sabe que eu não sei mudar.
Sabe que é parte do meu corpo.
E que sempre vai ser.
Sabe que é o café e não o leite.
Sabe que não tem frescura.
Não em mim.
Sabe que é puro tanto quanto arde.
Sabe que eu sou assim.
Morre e renasce todos os dias em mim.
Cresce e explode.
Cura e adoece.
Sempre assim.
Sempre ciclos.
Sempre tudo que eu não posso ser.
Não posso ter.
Nem sonhar.
Sabe.
Sempre sabe.
De tudo.
De todos.
E tudo acaba na mesma intensidade que começa.
Como um sonho.
Como uma xícara de café vazia.
Com borrão no fundo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

(Cena do filme 'Apenas O Fim', esse filme me afetou!)


Costume de ter dois pares de pegada.
Sempre.
Já não sei mais o som dos meus próprios passos.
E reconheço o valor do silêncio.
Dizer oi e só ouvir os ecos ao longe:
- Oi oi oi...
Reconheço o valor do eco.
Do simples.
E do eu.
Sorrir para o espelho
e ter meu tempo.
Meu próprio tempo.
Já não há mais validade nas palavras.
Meu silêncio.
E já não quero mais escutar.
Sempre tentamos.
Nunca aprendemos.
Tudo que um dia foi lei,
hoje é só papel rasgado.
Gasolina e queima.
Vira pó.
Dinheiro velho, sem valor.
Sem crédito.
Meus passos ecoam e eu ouço.
O valor do silêncio.
Palavras de renúncia,
treinadas em um palco vazio.
Melhor que platéia vazia.
Sem corpo e sem alma.
Sem olhar de vidro.
Apenas meus próprios passos.
E meu silêncio.
Meu.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O museu.

Ela já era velha. Sim, digo velha sem pena nenhuma, afinal temos idosos e temos velhos e nem sempre os velhos são tão idosos assim. Sempre fora sozinha para resolver todos os problemas surgidos em sua vida. Não tinha marido, não tinha filhos. Não tinha nada.

Quando tinha seus 30 anos, se separou do marido (em uma época em que mulheres fazerem isso era sinônimo de rebeldia e problemas sociais com as outras mulheres da sociedade). Nunca ligara para a sociedade, ‘ela que se exploda’, dizia. Nunca entendeu como, com sua boca enorme e as palavras não contidas, não havia sido presa. Mas voltando. Sem maridos e sem filhos, criou sua “empresa”, afinal, um ateliê de obras programas seria considerado empresa? Vendia protótipos de produtos e imagens para todo tipo de pessoa.
O mundo é preguiçoso e para equilibrar a preguiça mundial, nada melhor que pessoas que tenham falta disso em dobro (deu para entender?), para todos. E era assim que era. Pintor falido precisando de uma grana? Manda a ideia e a grana que lá o quadro é pintado, assinado e resenhado para posteriores e chatas explicações sobre a técnica e o processo de criação.
            
Sua casa refletia seu estado de espírito constante, trabalho, trabalho e trabalho. Três computadores, um notebook, uma máquina de escrever, uma biblioteca ocupando um a enorme sala, quadros, desenhos, esboços, móveis inacabados, discursos pendurados, papéis pelo chão, três celulares descarregados, cheques, notas soltas, alguns gatos, comida de gato, xícaras e canecas espalhadas, cartuchos de impressora e coisas assim. Tudo muito repetido e pela casa toda. Ela era o trabalho.



            Depois de se casar, nunca mais tentou um relacionamento sério que abalasse o ritmo de seu trabalho. Humanos são mais complexos e deles me bastam os clientes. E eram muitos, muitos nomes famosos, muitos que serão famosos e nenhum por mérito próprio.
Ninguém consegue nada sozinho, ninguém cria sem copiar.
Nem ela.

A arte imita a vida e sem vida, a arte é só a casca largada.

E ela assim foi, sem nem ao menos virar borboleta.

Sem nem ao menos viver suas 24 horas.

Sem nem ao menos viver.

Sem nada.


E você, continuará para os outros?

terça-feira, 13 de julho de 2010


Vá e corra com a vida, deixe ela te levar à lugares que você nunca sonhou.
Vá, coloque tudo em uma mala e parta. Conheça todas as pessoas do mundo. Aquelas que te farão rir e te farão chorar. Todas que tem o direito e um pouco mais.
Beba, fique de porre e tenha muitas dores de cabeça.
Veja, seja, sinta, fale, grite, fique em silêncio. Se mude, não tenha onde dormir, se case, tenha filhos, seus três, como sempre sonhou.
Corra com a vida, se case com ela.
Eu estarei aqui, com um bom livro nas mãos, boas noites de insônia, como não deve deixar de ser. Uma boa taça de vinho e a varanda, tendo o infinito qcomo jardim particular.
E eu estarei aqui. Como você um dia viu, como um dia você deixou pela vida.
E quando seus pés se sentirem cansados do mundo, a chave estará embaixo do carpete.
E o café sempre quente.

quinta-feira, 8 de julho de 2010



Em um simples olhar de janela,
olhar todas as coisas que você jura não perceber.
Tudo que passa diante dos seus olhos e você finge não ver.
As pessoas em suas vidas comuns,
quase tão comuns quanto a sua.
Não, não há tempestade no céu e o frio não te incomoda.
Você quer a tempestade para o visual mudar, pra algo te atingir.
Você quer a mudança.
A rotina sim te incomoda.
O café nosso de cada dia.
A dança dos dias.
Está morta e você quer vida.
Você não realiza os sonhos, porque fica vendo a tempestade chegar.
Cada dia é um dia amigo.
Cada dia é diferente, por mais que pareça uma cópia, de uma cópia, de uma cópia.
Se tudo igual te incomoda, se tudo igual não faz diferença.
É porque não há diferença.
E você já não sabe mais dançar.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Copa do Mundo, as eleições de 2010, a crise na Europa e eu...




Existe um quadro de acontecimentos aleatórios e ao mesmo tempo complementares rodando o globo.
            A Copa do Mundo institui um sentimento de nacionalismo e/ou patriotismo em (quase) todo cidadão, não só brasileiro como de todo o mundo. Querendo ou não, o futebol ocupa a cabeça, “deixando de lado” as preocupações. Crises e eleições parecem menores diante da grandiosidade do Evento.
            Mas o que eu, Cristina, 19 anos, brasileira qual não dá tanta importância ao futebol, que nunca votou em um presidente e busca crescer em um mundo competitivo e concorrido, acho de tudo isso? Onde eu estou nesse labirinto de acontecimentos?
            Para um lado eu vejo promessas de um país melhor, para outro vejo investimentos exacerbados em futebol e ao mesmo tempo vejo o bloco global de mais desenvolvimento econômico em crise, justamente no setor financeiro. Em alguns momentos, vejo nisso tudo uma grande contradição e a Copa no meio, como um certo placebo para todos esses problemas.
            A Copa não vai resolver problemas econômicos, de saúdo ou educação, não vai fazer o povo lutar por seus direitos e nem fazer com que eles cumpram seus deveres como se deve. No entanto, para um povo que se vê rodeado de problemas durante sua vida, ter um motivo de orgulho para seu país, talvez seja bom.
            Eu, particularmente, quero que o Brasil alcance um prêmio maior que apenas a taça, quero que ele cresça, sem bases que fiquem na promessa, mas que passem para a ação, para que eu, Cristina, 19 anos, brasileira que não dá tanta importância ao futebol, que nunca votou em um presidente, viva e cresça em um mundo um pouco menos maniqueísta (no sentido de tantas disparidades que existem).




Ah, escrevi esse texto com o tema do título, em uma entrevista de emprego, algum tempo atrás.  Dessas ideias que surgem do nada e tomam forma em 5 minutos.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Quando a cafeína ainda era pouca no sangue...


Eu volto aqui todas as noites,
pra olhar de longe como você está.
Eu olho de longe, eu finjo que não sou eu.
Eu finjo não estar.
Tomo um café, acho que estou lendo um livro.
Não sei nem o título.
Peço algo pra comer que eu nem sei o quê.
Você nem sabe, você nem sonha.
Com o que eu sonho.
Você.
O frio fica mais longe, rasga a pele.
Causando arrepios.
O café desce, o café esquenta.
E eu só olhando.
Não importa, você não vai me ver,
você não vai sentir.
Nunca pedi, nunca me deixei ver.
Conheço cada linha, cada expressão.
Cada sorriso, cada mordida no canto da boca.
Conheço caras e bocas.
As mãos.
Mas você não me vê, não me sente.
Eu não te deixo sentir.
Nem ver.
Tudo em um silêncio repentino, tudo em um caos invisível.
Acho que você nem me conhece.
Um mero estranho, uma pessoa estranha.
Que senta aqui e te olha simplesmente.
Te olha como se nunca mais fosse te ver.
É, posso nunca mais sentir.
Posso nunca mais olhar.
Boto mais açucar nesse café amargo.
Dou o último gole.
Fecho o livro (que ainda não descobri o título).
Deixo a conta na mesa.
Afinal, nunca vai me conhecer.
Nunca vai me ver.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A caminhada.


Depois de crescer, descobrir que todos os heróis da sua infância não são reais.
Ele desistiu de acreditar em tudo que se dizia do bem, que veio para salvar.
Política, medicina, futebol, tudo era patético e meramente placebo.
Sentava e via o pôr do sol da varanda de sua casa, ao mesmo tempo que respirava fundo,
sabendo que o mundo nunca havia sido justo e que não era agora que seria.
Isso ele não veria.
Rumou sua mente para um mundo de desapego, emocional e físico.
Desistiu de amar, pois aprendera o amor na infância,
sonho que foi destruído junto com o Papai Noel, o Coelho da Páscoa.
Andava quando não sabia o que fazer, saia sem rumo por sua própria história.
Buscando algum personagem que realmente existira em sua vida.
Solidão, a primeira personagem que encontrou e que lhe disse muito veementemente:
- Seremos sós, entre eu e você só existe um. Seremos nós, seremos ninguém e só assim seremos alguém.
Sem mais palavras, virou as costas e o deixou sozinho com suas próprias dúvidas, que para ela, a Solidão, deveriam ser resolvidas em seu infímo.
Continuou a longa jornada por seus personagens bizarros.
Dias e dias, sol nasce, sol se põe, lua cresce, lua mingua.
Não havia fome, não havia sono, não havia necessidade alguma.
Caminhar por caminhar. Era esse seu propósito.
Becos escuros seguidos de ruas ensolaradas, lugares tão dispares dentro de um só universo mínimo.
Se deparou com um espelho, um espelho que não o refletia, mas mostrava cenas, do passado, de seu passado.
O passado nunca está morto. Está ai, para atormentar o presente e ser assustado pelo futuro.
Nenhuma perfeição cruel rondou o passado. Muito pelo contrário,defeitos e mais defeitos, revividos com ênfase.
Pensou consigo mesmo: "Sem defeitos não existiria a perfeição e sem o conceito de perfeição não existiriam defeitos declarados.
O espelho se quebrou, os estilhaços se espalharam.
E desviando do vidro no chão, ele continuou sua busca utópica.
Se deparou com um jardim de rosas murchas. Rosas bem vermelhas em forma de coração. Suaves. Mas mortas.
Ali era o jardim do amor, das tentativas de preenchimento, do adubo essencial, o que claramente faltou.
Relembrou as aulas antigas de português, O Pequeno Príncipe: As rosas são egoístas e querem tudo pra si. Assim é o amor. Cravos são unicamente flores e inofensivos.
Um enorme casarão se erguia por detrás do jardim. Mas ele parecia estar vivo, pulsava. E pulsava. E mexia.
Era seu coração? Ele teria essa aparência? Um casarão abandonado?
As dúvidas foram maiores e ele não se contentou em deixar para si como havia dito à Senhora Solidão, de passos largos e devastadores, porém silenciosos.
Pronunciou em voz alta:
- Estou dentro de mim?
Eco. Eco. Eco.
Eco. Eco.
Eco.
Ec.
E.
.


O sol já havia partido e uma noite sem estrelas reinava superior no céu negro.
Levantou da varanda, secou o suor do rosto.
Deitou na cama.
E sonhou...
Que estava caminhando...
E encontrou uma...